Acho uma delícia ficar observando os fenônemos da natureza e constatar o quanto ela é dinâmica. Quem acha que a vida no campo é monótona não a conhece ou a olha com olhos equivocados, com parâmetros de cidade grande, procurando outro tipo de agito.
Na natureza, ao contrário da cidade, em que todo dia tem sempre oferta das mesmas coisas (já viu faltar laranja ou abacaxi no supermercado? Mesmo que meio azedas ou sem-graça, essas frutas estão sempre lá), a dinâmica é outra e segue a lógica das estações do ano, o que faz com que o cenário e os personagens mudem totalmente conforme a época.
Hoje, por exemplo, fui surpreendida, em uma caminhada de final de tarde em horário de verão, por um bando de macaquinhos que tentava chamar a minha atenção no bambuzal, pulando de lá para cá, fazendo poses e chacoalhando os bambus, que gemiam. Antes de partir para o ataque. Das mangas, sua sobremesa parece que preferida, depois de desgustar os brotos de bambu.
Aí me dei conta de que fazia meses, muitos meses que não os via. E que eles apareciam em bando, como costumam viver, sempre nesta época, atraídos pelas mangas que começavam a aparecer no final da primavera, e, mais adiante, pelo milho verde, outra iguaria de sua preferência.
Fiz um esforço para me lembrar se alguma vez tinha avistado macacos no inverno na fazenda, quando o pomar é predominantemente cítrico. Pelo visto, não gostam muito de laranjas, limões e mixiricas. Já são mais chegados nas jabuticabas, muito abundantes neste outubro, por sinal.
E reaparecem mesmo junto com o verde que veio para ficar um bom tempo, depois de várias chuvas da primavera. Não daquelas primeiras, hesitantes. Mas as chuvas que vêm com gosto e trazem a exuberância e o perfume das mangas, dos abacates e dos mamões.
Aí surge a dúvida: para onde eles vão e o que fazem no outono e no inverno? Seriam animais de hibernação? Como os jabotis, que passam meses fechados em seus cascos?
Nunca imaginei isso deles. Devem ir procurar alimento diferente em outras paragens nessa estação.
Mas, enquanto pensava nisso, de repente acordo com uma manga voadora que por pouco não atinge a minha cabeça. Atirada por um macaquinho que, depois, malandro e divertido, foge em disparada de volta para o bambuzal, sua escala antes de entrar na mata.
Se você não se diverte ao deixar a cidade grande e vir para o campo, eles, seres do mato, bem que se divertem com você. E, cuidado, que lá vem mais manga! Ainda bem que eles ainda não descobriram a jaqueira.
Cristina Rappa é jornalista, profissional de Comunicação Corporativa e, de uns tempos para cá, tem se dedicado a escrever livros infantojuvenis e crônicas sobre animais e outros seres vivos.