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Passarinhos de cidade grande

Colocamos adesivos para alertar os pássaros sobre o vidro.

A algazarra começa logo cedo, sendo que os primeiros a acordar são os sabiás-laranjeira. Há ainda as rolinhas e os bem-te-vis, mas ninguém ganha das maritacas, ou periquitos, em matéria de ruído. Muito alegres, elas voam e pousam em bandos, sempre piando estridentemente, no parapeito do telhado da nossa casa e das dos vizinhos, nos acordando pela manhã e provocando meus cinco gatos.

Os sabiás, mais gulosos, muitas vezes se arriscam a roubar uns grãos da ração dos gatos. Alguns até já se tornaram comida de gato. Nesse quesito, caçada a passarinhos, Pérola, a mais meiga e mais gordinha da turma peluda de casa, é campeã. Muito a contra-vontade teve que aceitar a coleira com guizo, para alertar as aves sobre sua proximidade, dando-lhes tempo para fugir. Um problema resolvido: a  chegada dos guizos decretou o fim da temporada de caça aos passarinhos em casa.

Além disso, a alimentação dos gatos passou a ser fornecida em dois turnos diários: de manhã cedo e no final da tarde. Assim, sem ração dando sopa o dia todo nos comedouros dos felinos, os passarinhos tendem a levar uma vida mais “natural” e vão se alimentar de frutas, sementes e flores das árvores e arbustos que têm, felizmente, aumentado no meu bairro, seja nos jardins das casas, nas calçadas ou nas praças. A julgar pela circunferência do corpo dos sabiás, a ração de gatos não parece estar fazendo muita falta.

Outra medida que tivemos que tomar para proteger os pássaros foi colocar adesivos nos vidros do andar de cima da casa que eles não identificavam e batiam, ao tentar atravessar, pensando se tratar de um vão livre.

Encontrar um passarinho morto pela batida no vidro era motivo de tristeza geral aqui.  Foi quando uma amiga com o mesmo problema trouxe da Europa uns simpáticos adesivos “alerta-pássaros” e parti para essa importação também. Outro problema resolvido e mais nenhum passarinho apareceu morto por aqui. Pelo menos de morte não-natural.

Mais comida e poluição

Maritacas e rolinhas se alimentam na janela do vizinho: “fartura” na cidade grande.

Cerca de 400 espécies habitam a Grande São Paulo, segundo o Guia de Campo Aves da Grande São Paulo, de Pedro Develey e Edson Endrigo e publicado pela Aves & Fotos Editora. Forte urbanização, poluição do ar, dos rios e sonora não parecem incomodá-los. Com a oferta de comida fácil (como a ração dos meus gatos…) é maior nas cidades, as aves não abandonam a metrópole. Para nossa sorte.

Nas praças e em alguns restaurantes com mesas ao ar livre, é comum observar pardais, tico-ticos e pombas à espreita, esperando cair ou ganhar alguns farelos, casquinhas e miolos de pão.

Na ciclovia do rio Pinheiros, os quero-queros já vêm fazer companhia às garças-brancas e às capivaras. Fazem seus ninhos, perseguem com coragem e energia alguns ciclistas, para defender suas crias (nem sempre dá resultado e alguns são, infelizmente, atropelados), e parecem não se incomodar com o odor horrível do rio, especialmente em dias de muito calor e pouca chuva.

Se a população e o poder público valorizarem e preservarem o verde na cidade, vamos ter uma São Paulo não apenas mais alegre, com a presença dos passarinhos, mas também mais fresca e agradável.

Cristina Rappa é jornalista, profissional de Comunicação Corporativa e, de uns tempos para cá, tem se dedicado a escrever livros infantojuvenis e crônicas sobre animais e outros seres vivos.

3 Respostas para “Passarinhos de cidade grande”

  1. Com tecnologias inovadoras, as megacidades brasileiras podem tornar-se mais ecológicas, aumentar a qualidade de vida dos seus habitantes e cortar custos – tudo ao mesmo tempo.

    http://www.siemens.com.br/desenvolvimento-sustentado-em-megacidades/

  2. Muito bacana seu texto! Convido-a a visitar meu blog Bonito Birdwatching, tenho certeza que vai gostar, pois também fala de passarinhos. E claro, tenho gatos em casa também, rs…

    • Olá, Tietta! Que bom que gostou! Gostei muito do seu blog tbem! Estou programando viagem a Bonito. Quem sabe neste ano! Lancei, em 2013, livro infantil, pela Melhoramentos, sobre aves ameaçadas do Cerrado e contra o tráfico. Chama-se Topetinho Magnífico. E acabo de escrever uma matéria para a Folhinha, suplemento infantil da Folha de S. Paulo, sobre a questão do comércio ilegal de animais silvestres. Todo trabalho de conscientização nessa área me interessa muito. Um abraço, Cristina.

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